Jesus e o poço

“Ele chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, que ficava perto das terras que Jacó tinha dado ao seu filho José. Ali ficava o poço de Jacó. Era mais ou menos meio-dia quando Jesus, cansado da viagem, sentou-se perto do poço.” João 4:5,6

Cerca de mil anos a.C o rei Davi iniciou seu reinado, que durou quarenta anos. Durante esse tempo, Davi adulterou com Bate Seba, resultando numa gravidez ilícita. Por esse motivo ele cometeu um homicídio, enviando Urias, marido de Bate Seba e um de seus valentes, para a frente da batalha, numa tentativa desesperada de ocultar o seu pecado e “colocar a poeira de baixo do tapete.”

Deus, depois de nove meses, levantou um profeta chamado Natã, que em hebraico quer dizer: presente de Deus. O profeta confrontou Davi no seu pecado e profetizou: “Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o que era mau perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua esposa tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom.” (2 Samuel 12:9).

Com isso, após a morte de Salomão, segundo filho de Davi com Bate Seba, o reino de Israel se dividiu em duas partes. O reino do sul, também conhecido como Judá e o reino do norte, chamado de Israel. A profecia de Deus se cumpriu e depois de Salomão Israel nunca mais foi uma nação unida. Por volta de 722 a.C o reino do norte (Israel) foi dominado pelo império Assírio (2 Reis 17:7-27) e não mais se estabeleceu como reino. Assim, com o tempo, entre o povo do norte já não havia mais hebreus puros, uma vez que, houve miscigenação com os assírios, pois, os homens se deitaram com mulheres estrangeiras e tiveram filhos misturados e os israelitas foram espalhados por todo o território assírio e constituíram famílias com os babilônios.

Os assírios se estabeleceram na província de Samaria, ela era um ponto estratégico para o seu exército. Contudo, o povo miscigenado também habitava em Samaria. Essa província (Província = Nome de cada uma das partes que formam a divisão territorial de certos Estados.) ficava entre a Judéia e a Galiléia, duas cidade judias. Havia, porém, entre os judeus e os samaritanos uma rixa que começou desde a divisão dos reinos (Judá e Israel) e os judeus do reino do sul não consideravam os samaritanos um povo puro e escolhido por Deus.

Portanto, era proibido aos judeus terem qualquer tipo de contato com pessoas samaritanas, eles não usavam coisas em comum. Além disso, segundo a tradição cultural judaica, um homem não podia conversar a sós com uma mulher, a menos que fosse a sua esposa, e uma mulher, mesmo que fosse na presença de outras pessoas, não poderia dirigir a palavra a um rabino, sem que o rabino se dirigisse primeiro à ela. Assim, Jesus estava diante de uma situação até então inusitada para os discípulos, Ele era judeu, rabino e homem, a mulher era samaritana, prostituta e estava a sós com ele (Verso 7,8 e 9).

E o mais incomum nessa história era o fato dela estar ali fora de horário, ao meio dia, quando a água estava mais quente, talvez por não se sentir bem com o grupo de mulheres que tirava água pela manhã. Normalmente, as mulheres se uniam para buscar água no poço no início do dia, enquanto uma ajudava a outra, elas conversavam, era uma espécie de encontro social e uma forma de se protegerem de pessoas mal intencionadas.

A água era a principal fonte de vida para as cidades e vilas. Havia uma grande dificuldade em consegui-la naquela região, por não ter nenhum tipo de encanamento ou estrutura de tubulação, as mulheres caminhavam uma certa distância para buscar pesados jarros de água para os afazeres domésticos (lavar utensílios, cozinhar, tomar banho, etc.). Existe, entretanto, uma diferença entre o poço e a cisterna. O poço é cavado até atingir o lençol freático e nunca precisará ser cheio novamente; A água do poço brota naturalmente. Enquanto que a cisterna é um buraco feito nas rochas do terreno que serviam para armazenar as águas acumuladas da chuva, que desciam pelas canaletas dos telhados ou pelas encostas. A palavra escrita no original grego transliterado - ou seja, com vogais - para poço é φρεαρ (= “phrear”) que pode ser tanto um poço, quanto uma cisterna.

A comunidade judaica daqueles dias considerava as águas da cisterna como uma água morta, por ser parada, e as águas do poço como água viva, que são consideradas excelentes, pois vêm de um lençol natural e ainda não foi tocada por mãos humanas. Esse é o tipo de água que o rabi está oferecendo para aquela mulher adúltera; Uma água que sai de dentro Dele para matar o vazio do coração dela. Jesus estava oferecendo a água da vida não porque a boca dela estava seca e sim porque o coração dela estava seco (Verso 10).

“Ela respondeu:

– O senhor não tem balde para tirar água, e o poço é fundo. Como é que vai conseguir essa água da vida? Nosso antepassado Jacó nos deu este poço. Ele, os seus filhos e os seus animais beberam água daqui. Será que o senhor é mais importante do que Jacó?

Então Jesus disse:

– Quem beber desta água terá sede de novo, mas a pessoa que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Porque a água que eu lhe der se tornará nela uma fonte de água que dará vida eterna.

Então a mulher pediu:

– Por favor, me dê dessa água! Assim eu nunca mais terei sede e não precisarei mais vir aqui buscar água.” (Versos 11-15)

A mulher samaritana estava com um coração sedento, já tinha tido cinco maridos e o que estava com ela não era, legalmente, o seu esposo, o que a tornava prostituta e adúltera (Versos 15,16 e 17). Aquela mulher estava em busca de algo que nem ela mesma sabia o que era. Entretanto, os olhos dela estavam totalmente voltados para o que era terreno; Cristo, porém, a abordou para falar de algo espiritual, suficiente para preencher o vazio do coração do homem, o evangelho. A mulher questionou a Jesus se ele era mais importante do que Jacó, fez isso sem saber que estava na presença do próprio Deus; ela esperava que aquele judeu fosse solucionar um problema material e terreno dela, a distância para buscar água, não seria mais percorrida por ela e isso, na perspectiva dela, era suficiente. Jesus estava falando de um problema muito mais profundo da humanidade, a busca por propósito na vida, o vazio do coração e a sede da alma.

“Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.” (Versos 19 e 20). Novamente Jesus ensinou uma verdade espiritual para ela. O tempo da adoração religiosa que requer um local específico, como os templos de Jerusalém ou o monte Gerizim, estava acabando. A fé daquela mulher era uma fé morta, baseada em antepassados, como Abraão, Isaque e Jacó, sua religião fundamentava-se na velha aliança. Os judeus e os samaritanos não conheciam, até então, uma vida religiosa viva, que brotava naturalmente dos corações e se expandiria como uma árvore frondosa por toda a terra.

Jesus estava respondendo a sérios questionamentos da raça humana, a mulher samaritana, porém, estava fazendo as perguntas erradas para a pessoa certa. O que preenche o nosso vazio não é algo terreno, nem a solução de problemas visíveis. As dúvidas elementares do ser humano não podem ser respondidas pela nossa própria capacidade intelectual. Os problemas que temos estão ligados à nossa morte espiritual e só podem ser solucionados com a Água Viva. Não há um lugar específico para buscarmos dessa água, nem um dia especial, existe, sim, uma pessoa que tem dentro de si a Vida Eterna, que pode nos reconciliar com o Pai e nos tornar adoradores que adorem em espírito e em verdade (Verso 23a). “...porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Verso 23b e 24).

A adoração exigida por Deus é uma adoração que brote naturalmente. O sentido da vida é glorificar o Altíssimo. A razão de ser do homem é Viver para adorar a Deus como um estilo de vida. Fomos criados para a eternidade e a lógica humana é terrena. A pergunta daquela mulher continua a ser feita pelos homens: “Onde eu encontro dessa água?” ou “onde eu devo adorar a Deus?” e a resposta do Senhor é a mesma: “Não há um local específico e sim uma única Pessoa, Eu estou em todos os lugares, mesmo quando ninguém te vê eu estou presente e exijo a sua adoração constante.”.

Somente depois de um encontro com Cristo que a nossa rejeição é revertida. Os discípulos indagaram Jesus quanto àquela cena inesperada, cheios de pré-conceitos alguns homens continuam a viver a sua religiosidade morta, enquanto que aquela mulher agora se tornara uma missionária e encontrara seu propósito de vida e sua razão de ser. Precisamos fazer as perguntas certas para a pessoa certa, não é "onde?", e sim "quem?". Jesus continua a matar a nossa sede espiritual, continua a nos reconciliar com Deus e uns com outros, Ele é o agente de paz que opera entre inimigos, tornando-os amigos, como reino do norte e reino do sul. A sua água ainda faz brotar a vida eterna e os pecados são perdoados. Deus não está num local fixo, Ele se move pela face da terra oferecendo a nós a água que dá vida à nossa morte e preenche nosso vazio.

“Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.” (Verso 10) O que Jesus tem pedido a você?

Em Cristo,

Allan Dias Velasque.